<em>FREAKONOMICS</em> e divulgação científica
O livro Freakonomics, escrito em parceria pelo economista Steven Levitt e pelo jornalista Stephen Dubner, debruça-se sobre uma temática muito importante: a desconstrução de ideias falsas ancoradas em falácias, através da busca do lado «escondido» de todas as coisas. Ideias falsas que preenchem uma parte não negligenciável do senso comum. Sejam essas ideias falsas derivadas de impressões retiradas das vivências diárias - «Tenho visto os cinemas cheios, portanto o dinheiro abunda por aí»; ou, mais elaboradas, conceptualizando relações causa-efeito assentando em meras correlações de variáveis - «A criminalidade está a baixar porque o número de sentenciados à morte está a crescer»; quer sejam, ainda, ideias passíveis de ser qualificadas como quase pertencendo ao conhecimento do tipo mágico - «A sua vida vai correr pelo melhor, pois dei ao meu filho o nome de Vencedor» Na verdade, a busca do lado «escondido» as coisas, como é descrita em Freakonomics releva, em geral, da construção de conhecimento científico. Conhecimento desenvolvido tendo como ferramentas, como é frequente e que são bem conhecidas nas ciências sociais, a análise estatística multivariada.
Um livro muito interessante que analisa questões tão diferentes como, entre outras: (i) a falsificação dos resultados dos testes dos alunos pelos professores com vista à obtenção de bons resultados nos processos de avaliação de docentes; (ii) a corrupção nos campeonatos de luta de Sumo no Japão com o objectivo de pertença dos lutadores - sim, são aqueles muito pesados - às divisões mais elevadas, optimizando assim o seu estatuto sócio-económico; (iii) o facto dos empregados de base dos dealers da droga - a maior parte dos que se ocupam nesta actividade - viverem em casa dos pais devido aos seus muito baixos salário; (iv) qual é, de facto, a influência dos pais no futuro dos filhos; (v) num país como os EUA, com uma disseminação enorme de armas nas mãos de particulares, as piscinas constituem um muito maior risco de vida para as crianças; (vi) o facto do decréscimo de criminalidade nos EUA ter muito a ver com a legalização da interrupção voluntária de gravidez… Estas e outras questões polémicas vêm analisadas no livro, constituindo-se os resultados e interpretações apresentadas frequentemente como enormes surpresas ao arrepio do que o senso comum nos faria pensar. Pensando nós estarmos a utilizar da melhor maneira a nossa Razão - do género, afinal é a nossa Terra que anda à volta do Sol, e não o Sol à volta da Lua; o melhor é não fazer tais afirmações porque podemos ainda ficar muito mal vistos. Etc.
Talvez a mais polémica das polémicas questões tratadas no livro seja aquela que afirma que o decréscimo de criminalidade verificado nos EUA tem sobretudo a ver com a legalização da interrupção voluntária de gravidez. Com efeito, esta alteração legal que data dos anos 70 conduziu a que, desde então, não nascessem milhões de indivíduos que constituiriam um grupo populacional de onde, com elevada probabilidade, viriam uma boa parte dos criminosos dos anos 90. Os autores analisam uma série de variáveis, de outros factores possíveis de explicar a queda verificada no crime nos EUA, tais como estratégias de policiamento inovadoras (incluindo «choques tecnológicos»), alterações no mercado da droga, envelhecimento da população, leis mais rigorosas de controlo do porte de armas, economia mais forte («é a economia, estúpido»), uma maior utilização da pena de morte, a contratação de mais polícias, mais presos nas prisões. De todas estas causas, apenas as duas últimas contribuíram alguma coisa que se visse para a diminuição da criminalidade. Mas, de facto, a grande explicação foi a de terem nascido indivíduos com possibilidade de virem a ser criminosos. Aí está.
Talvez espantados, os autores, e mesmo algo assustados - é o que penso - do impacto desta conclusão, resolveram incluir no livro um caso não americano (para além do caso referido dos lutadores de Sumo no Japão): a lei que ilegalizou a prática do aborto na Roménia em 1966. Com rapidez, concluíram que, desta forma, as mulheres romenas deixaram nascer bebés que, de outro modo não teriam visto a luz do dia. E sabem que, neste caso, segundo a explicação dos autores, estas crianças indesejadas em vez de se tornarem em criminosos vinham com os instintos revolucionários que acabaram por deitar abaixo o regime em 1989! E mais - realçam ainda os autores -, Ceausescu e a mulher foram os únicos dirigentes da zona a serem mortos!! Sem mais comentários!! Assim se borrou uma obra de divulgação científica.
Um livro muito interessante que analisa questões tão diferentes como, entre outras: (i) a falsificação dos resultados dos testes dos alunos pelos professores com vista à obtenção de bons resultados nos processos de avaliação de docentes; (ii) a corrupção nos campeonatos de luta de Sumo no Japão com o objectivo de pertença dos lutadores - sim, são aqueles muito pesados - às divisões mais elevadas, optimizando assim o seu estatuto sócio-económico; (iii) o facto dos empregados de base dos dealers da droga - a maior parte dos que se ocupam nesta actividade - viverem em casa dos pais devido aos seus muito baixos salário; (iv) qual é, de facto, a influência dos pais no futuro dos filhos; (v) num país como os EUA, com uma disseminação enorme de armas nas mãos de particulares, as piscinas constituem um muito maior risco de vida para as crianças; (vi) o facto do decréscimo de criminalidade nos EUA ter muito a ver com a legalização da interrupção voluntária de gravidez… Estas e outras questões polémicas vêm analisadas no livro, constituindo-se os resultados e interpretações apresentadas frequentemente como enormes surpresas ao arrepio do que o senso comum nos faria pensar. Pensando nós estarmos a utilizar da melhor maneira a nossa Razão - do género, afinal é a nossa Terra que anda à volta do Sol, e não o Sol à volta da Lua; o melhor é não fazer tais afirmações porque podemos ainda ficar muito mal vistos. Etc.
Talvez a mais polémica das polémicas questões tratadas no livro seja aquela que afirma que o decréscimo de criminalidade verificado nos EUA tem sobretudo a ver com a legalização da interrupção voluntária de gravidez. Com efeito, esta alteração legal que data dos anos 70 conduziu a que, desde então, não nascessem milhões de indivíduos que constituiriam um grupo populacional de onde, com elevada probabilidade, viriam uma boa parte dos criminosos dos anos 90. Os autores analisam uma série de variáveis, de outros factores possíveis de explicar a queda verificada no crime nos EUA, tais como estratégias de policiamento inovadoras (incluindo «choques tecnológicos»), alterações no mercado da droga, envelhecimento da população, leis mais rigorosas de controlo do porte de armas, economia mais forte («é a economia, estúpido»), uma maior utilização da pena de morte, a contratação de mais polícias, mais presos nas prisões. De todas estas causas, apenas as duas últimas contribuíram alguma coisa que se visse para a diminuição da criminalidade. Mas, de facto, a grande explicação foi a de terem nascido indivíduos com possibilidade de virem a ser criminosos. Aí está.
Talvez espantados, os autores, e mesmo algo assustados - é o que penso - do impacto desta conclusão, resolveram incluir no livro um caso não americano (para além do caso referido dos lutadores de Sumo no Japão): a lei que ilegalizou a prática do aborto na Roménia em 1966. Com rapidez, concluíram que, desta forma, as mulheres romenas deixaram nascer bebés que, de outro modo não teriam visto a luz do dia. E sabem que, neste caso, segundo a explicação dos autores, estas crianças indesejadas em vez de se tornarem em criminosos vinham com os instintos revolucionários que acabaram por deitar abaixo o regime em 1989! E mais - realçam ainda os autores -, Ceausescu e a mulher foram os únicos dirigentes da zona a serem mortos!! Sem mais comentários!! Assim se borrou uma obra de divulgação científica.